quarta-feira, julho 04, 2001


Músicas inéditas dos Doors serão colocadas na internet

Ray Manzarek, tecladista do grupo The Doors, esteve em Paris nesta semana em que a morte do vocalista da banda Jim Morrison completou 30 anos e anunciou que uma série de letras inéditas do grupo será divulgada em breve pela internet, inclusive com gravações ao vivo.

Acompanhado por Danny Sugermann, o empresário do grupo, Manzarek anunciou o lançamento de "Bright Midnight Records", selo criado pela Elektra/Warner, gravadora que tem os direitos autorais das gravações originais do The Doors, com os integrantes vivos do conjunto, Manzarek, o guitarrista Robbie Krieger e o baterista John Densmore.

Manzarek afirmou que catorze shows do The Doors foram gravados em 1969 com objetivo de que fosse lançado um CD ao vivo no ano seguinte, o único de Jim Morrison, o álbum duplo "Absolutely Live".

"Então utilizamos aproximadamente cinco por cento das faixas disponíveis", afirmou o músico, acrescentando que o resto das gravações feitas nesta época seriam divulgadas através da internet.

Os trinta anos sem Morrison foram lembrados na terça-feira pela multidão de fãs que visitou o cemitério parisienese Père Lachaise, onde ele foi enterrado no dia 7 de julho de 1971, quatro dias depois da sua morte.

Ray Manzarek apresentou nesta terça-feira à noite, no teatro Bouffes du Nord de Paris, dois vídeos, "Feast Of Friends", um documentário de 16 mm coproduzido pelo The Doors, e "HiWay", filme em 35 mm de 50 minutos de duração feita por Morrison.

Vários shows foram organizados na ocasião em Paris por bandas especializadas em covers dos The Doors.


quinta-feira, junho 28, 2001

Para quem gosta de Adoniram Barbosa....

Trem das onze para a saudosa maloca
Leonardo Lichote
do Globo On Line

O bairro paulistano do Bexiga das décadas de 50 e 60, com suas saudosas malocas e sua malandragem de sotaque italiano, será revivido nas telas de cinema. O diretor Walter Caira trabalha no projeto do longa-metragem "Trem das onze", uma homenagem ao lendário sambista Adoniran Barbosa, um dos maiores cronistas dos dramas e alegrias vividos nos becos, bares e casebres da periferia de São Paulo. Para interpretar o compositor, Caira convidou Lima Duarte.

- Sempre fiz personagens bem representativos do povo brasileiro. E Adoniran, apesar de ser essencialmente paulistano, vivia uma realidade comum a todo os brasileiros - acredita Lima, que finalizou recentemente sua participação no longa-metragem "O preço da paz", de Paulo Morelli, que deve estrear em breve.

O ator conta que conheceu Adoniran no fim dos anos 40, época em que ambos trabalhavam na Rádio Record. E eles quase foram parceiros também no cinema. Os dois receberam o convite para atuar em "O cangaceiro" de Lima Barreto, premiado no Festival de Cannes de 1953, mas apenas Adoniran participou do filme. Lima guarda boas lembranças desse tempo.

- Adoniran adorava contar prosa, era muito divertido. Mas tinha um defeito que me preocupava na época. Ele fumava demais. Inclusive, o nome de seu personagem mais famoso no rádio era Charutinho - rememora Lima, num tom entre o lamento e o riso. - Gostava muito de suas canções. Até hoje, as minhas favoritas são "Trem das Onze", "Saudosa maloca" e "Samba do Arnesto".

Filme abordará o lado folclórico de Adoniran

Mais que um biografia que dê conta de toda a vida do ator João Rubinato (verdadeiro nome de Adoniran), o diretor Walter Caira quer apenas pinçar alguns fatos mais pitorescos da trajetória do artista.

- O filme abordará o folclore em torno da figura de Adoniran, o lado gostoso de sua vida - explica o diretor, sem disfarçar sua admiração pelo sambista.

A idéia do projeto surgiu quando Caira viu a peça "Uma viagem músico-teatral com Adoniran Barbosa", de Clóvis Torres, em junho do ano passado. O diretor já era um apaixonado pela obra e pela personalidade do autor de "Tiro ao álvaro" e a peça acabou servindo como um estopim para a criação de seu primeiro longa-metragem - antes, Caira tinha uma carreira de quase trinta anos na publicidade. Seis meses depois de ter visto a peça, a base do roteiro já estava escrita. De lá para cá, ele montou sua equipe e escalou o elenco de peso, que além de Lima Duarte, deverá ter Tony Ramos e Alexandre Borges.

- Como o filme ainda está em fase de pré-produção, os convites foram feitos apenas verbalmente e ninguém está confirmado. Mas todos se mostraram muito empolgados com o projeto. Em uma de nossas conversas, Lima Duarte comentou: "Walter, nós vamos nos divertir muito com esse filme" - conta.

E o próprio Lima continua:

- O projeto é entusiasmante, não só por lembrar Adoniran, mas principalmente por mostrar o ambiente que permitiu o surgimento do artista. Gostaria que existissem mais projetos como esse, que abordassem até com mais profundidade a história das pessoas que fizeram o rádio paulista na década de 40 e que, depois, foram fundamentais para a criação da linguagem televisiva brasileira.

O conjunto vocal Demônios da Garoa, principal intérprete da obra de Adoniran, também foi convidado para participar do projeto. Caira planeja inserir no filme um clipe dos velhos sambistas cantando "Trem das onze", com o bairro do Bexiga servindo de cenário.

- Adoniran Barbosa e Demônios da Garoa fazem parte de um aspecto um pouco esquecido da cultura brasileira. Hoje, para fazer sucesso, você não tem que ter talento. Precisa apenas de dinheiro, influência e bunda. O filme é importante por resgatar uma época em que a boa música era mais valorizada - opina Odilon Cardoso, empresário do Demônios da Garoa.

Além de "Trem das onze", a trilha contará com outros sucessos de Adoniran, em alguns momentos adaptados para se adequar à dinâmica das cenas.

"Adoniran era um personagem"

Apesar do roteiro ser baseado na peça de Clóvis Torres, Caira acrescentou muitos elementos novos ao texto, a partir das informações que conseguiu com suas pesquisas. O diretor vasculhou a internet, leu livros sobre o sambista e conversou com pessoas que viveram com ele, entre elas o produtor musical Pelão e a filha de Adoniran, Maria Helena. Com eles, pegou detalhes de sua personalidade, como a maneira dissimulada que se levantava de uma mesa quando estava sem dinheiro para pagar a conta.

Para alimentar ainda mais o folclore em torno de Adoniran, o diretor resolveu dramatizar alguns de seus sambas. No filme, a letra de "Samba do Arnesto" é mostrada como uma situação vivida pelo próprio Adoniran. Ele e um grupo de amigos chegam na casa do tal Arnesto para um samba, só que dão de cara na porta. "Nós vortemo com uma baita duma réiva, da outra vez nós num vai mais", reclamam, com os erros de português característicos das letras de Adoniran. Em uma de suas canções, ele chegou a afirmar que "pra escrevê uma boa letra de samba, sentida, humana, a gente tem que sê, em primeiro lugal, narfabeto".

- Na verdade, o próprio Adoniran era um personagem de João Rubinato - conta Caira. - Sua filha, Maria Helena, diz que era impressionante sua mudança no comportamento e na maneira de falar quando assumia a figura caricatural de Adoniran Barbosa.

Lima Duarte completa:

- Todos nós atores acabamos absorvendo algumas características de nossos personagens. Adoniran sabia da importância do tipo que construiu para si mesmo e acredito que algumas vezes ele assumia conscientemente essa figura, até mesmo para atender aos anseios do público.

Esta e uma pagina dedicada a todos aqueles que amao musica.